sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

dentes na cidade

Nesta cidade tenho medo dos meus pés, estão em sangue, pés escarlates e ruins, com vários apontamentos/episódios de obsessiva compulsividade, assim como as mãos que aferram as coisas de lado – mesmo as que se apresentam de frente − : mãos e pés plangentes. E aquando estes dias aduzem, eu não sei que eles vêm; mas admito que me vêem, porque… porque gosto de proposições quando carteio comigo próprio, e sou subespécie de Pessoa; o mister da permuta consigo, e assim um dia hei-de escrever um livro copioso, e depois outro mais pequeno ou em latim parvo, e trespassados dois meses um médio, como aqueles que se colocam entre defesas e atacantes, um livro 10, um Rui Costa; e depois sete poemas − só para mostrar que também os sei aparecer; e mais além um romance em três tomos. Entretanto vou lendo coisas velhas em papel novo, apodero-me de algumas de lado como se estivessem de lado, não de frente, como in veritas estão, ou são, é tudo o mesmo, parecem acordes diferentes, mas é só da posição dos dedos. Amanhã é outro dia diz o poema ordinário, e tudo se irá transformar, porque o me dói não são os pés, são os dentes, e portanto 300 mg de clonixina, sem esquecer a lactose, avicel, estearato de magnésio, talco,eritrosina (E127), azul patenteado V (E131), dióxido de titânio (E171) e gelatina, darão cabo da dor do artista, arruinando a sua obra póstuma.


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